quinta-feira, 23 de julho de 2009

uma prova poética

PROVA JULI FARINA - Mestre em Psicologia Social


Questão 7:

Capital-Arte:

Cuidado! Frágil!

A arte contemporânea é frágil. Mas é tanto mais frágil quanto mais tentamos cuidá-la, acalentá-la, mantê-la. Se já temos dificuldades em saber quem é o autor de uma obra, se aquele que a concebe como conceito, se aquele que a executa, se aquele que lhe dá sentido enquanto espectador... Também não sabemos de quem é a obra, a quem pertence a obra... Se aquele que a produziu ou aquele que a comprou.

Arte contemporânea, diz o verbete. Mas enquanto enquanto contemporânea seu trabalho é nos colocar em relação com o extemporâneo, com aquilo que nos permite fugir, com aquilo que nos coloca num fora do espaço-tempo vivido, em contato com matérias fluidas em busca de formas que, por sua vez, serão sempre fugazes, sempre dependentes do encontro com a diferença que virá desconstruí-las, miná-las...

Não há forma fixa, por isso a fragilidade está justamente na tentativa de fixação. Perderam-se as categorias capazes de fixar a arte a partir de juízos de valor estabelecidos do que é boa ou má arte, bom ou mau artista.

Se a questão contemporânea é capital, entendendo-se capital tanto em seu sentido capitalístico quanto de emergência do contemporâneo como questão, pra que fazemos arte hoje?

Veja-se bem: arte não é cultura! Arte é o que coloca a cultura em cheque, abala as estruturas, produz curto-circuitos, explosões! O que é capital na arte? Arte-capital?!

Fugir do capital é capitalizar a arte? Ou descapitalizar a arte?

Nos tempos do “tudo pode ser vendido” uma arte vendável é capaz de abalar a cultura? Como se paga o artista? Como se coloca preço na arte? Quanto custa uma performance? Um happening? Um quadro? Um artista?

Arte capital

capital arte:

descapitalizada arte,

decapitado artista.

Capitalizado artista,

decapitada arte.

De cada pitada de arte,

picadas de artista:

escape capital,

capital arte!

Questão 1:

Imagem é um conceito complexo. É muito mais do que aquilo que a enquadra como figura visual e estática. Não pensamos apenas por imagens visuais, há imagens sonoras, imagens hápticas e o pensamento é mais potente quando se livra de uma imagem do que seja pensar.

Conceber imagem como idéia essencial, é coisa de Platão: herança muitas vezes maldita, que sobrecodifica a imanência. Na imanência não há formas, só matéria para as formas que recortam o caos. É recortando o caos que conseguimos viver, agindo na matéria, transformando a matéria, dando às imagens, efeitos de outras imagens. A imagem não é fixa, é infinita em sua potência de produzir outras imagens. É de imagem que se faz a memória, como arsenal, ferramenta contagiosa das percepções atuais. “A memória é uma ilha de edição”, dizia Wally Salomão: cada imagem é uma produção editada de uma cadeia infinita, que carrega em si, outras cadeias em potencial.

a IMAGEM

precisa de MARGEM

as bordas da GEMA,

o GERME

de onde EMERGE

uma MIRAGEM:

nasce outra IMAGEM.

Questão 51:

O tempo pinta um quadro.

Onde está a paisagem?

No olho do quadro,

ou no quadro da imagem?

O olho é olhado?

Ou é ele quem olha?

Não é do tempo,

que é feita a paisagem?

A paisagem não existe

sem teu olhar.

O espaço é o tempo a te encantar.

O quadro do tempo não posso olhar.

Não tenho mais tempo

de te encontrar.2

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