Ricardo Dantas Lopes
IMAGEM
São seres que se interpõem entre o que acontece hoje no mundo da pessoa, e o que servirá de matéria-prima para seu pensamento por vir, situando-se em uma espécie de posição intermediária entre o sentir e o pensar. A imagem em um primeiro momento evoca sensações passadas, traz lembranças, reabre marcas, descobre feridas que estavam cicatrizadas, bem fechadas, mas que expostas a essa nova agressão faz a pessoa lembrar da importância que este tema tem para ela e ao longo de sua trajetória, das inúmeras vezes que já teve de ter cuidado-dor para não reabrir-expôr sua marca, diante de outras situações semelhantes a essa mesmo que sem relação aparente com esta nova.
A imagem também é em um segundo momento a percepção da realidade, circulando entre o corpo da pessoa, o objeto-imagem visualizado e o pensamento (ocorrer em um tempo diferente tem função mais didática que temporal ou espacial). Traz consigo um poderoso signo capaz de atrair mais a atenção do que outra forma de objeto, uma vez que a indefinição que a imagem possui é devir para pensamentos sedentos de desejos, de prismas a serem descobertos. Por não ter a interferência de outra pessoa que não ele mesmo, o autor destas imagens não necessita pensar numa designação para sua obra, mas sim em uma significação, que em um movimento circular, intempestivo ou manso, recorre às imagens anteriores e traz uma nova cinese, uma nova ação, em resposta a um objeto imagem’nado (imaginado?).
Este caráter turbilhonante do percurso da imagem, percorrendo tempo e espaço indefinido é elemento de aprendizagem do viver, do sentir, do importante para si, do aprender a aprender.
“Por detrás da crítica dos objetos,
do sistema dos objetos,
da sociedade deconsumo,
havia a magia do objeto,
sendo este um objeto sonhado.”
BAUDRILLARD, em Fragmentos Intempestivos.
SIMULACRO
São espelhos. “Há coisas que podemos ver nos espelhos mas que não podemos ver sem eles, notadamente nós mesmos (...). Os espelhos e por sua extensão as obras de arte, em vez de nos devolverem o que podemos conhecer sem eles, são instrumentos de outro conhecimento. DANTO
CALEIDOSCÓPIO LINEAR
O olhar que passa e perpassa
para ali além de onde não mais se vê
perdida numa indefinição de tempo
desprendido de amarras que não prendem
O olhar de quem sonha
de quem procura de forma louca
busca e rebusca a imagem
atrás de sua liberdade
O olhar de quem vê a paisagem
busca a s dentro dela
mas só acha na moldura do quadro
com uma ponta de rabisca para fora
Busca o alcance do seu olhar
sonha com o caminho do olhar
percorrido por seus olhos e talvez por si mesmo
vê-se neste caminho, caleidoscópio linear
Recusa a normalidade do olhar
quer a loucura, o estrabismo
sabe que não-ver é ver
sabe que além do olhar há todo o resto.
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