Dagoberto de Oliveira  Machado - mestrando
 1. 
 Pensar a imagem como  um conceito, é pensá-la por sua porosidade. Como nos aponta Deleuze  acerca da porosidade dos conceitos. Qual a emergência do conceito de  imagem? O que cabe neste conceito? Para que Serve tal conceito? Qual  sua porosidade? Ainda, com Deleuze, podemos pensar em levar o conceito  ao seu limite, empurrá-lo ao limite da linguagem, ao seu extremo. 
 Para talvez compreendemos  o que é imagem, como nos questiona Barthes, tenhamos que em absoluto  abandonar boa parte de nossa visão de mundo, construída historicamente  e calcada em uma filosofia da representação. Caso contrário corremos  o risco de criarmos um conceito que opera apenas palavras e não mundos.  Pois conceitos operam, movimentam mundos. 
 Portanto, abandonar  a idéia de simulacro e pensamento ideal, as dicotomias entre “mente”  e “corpo”, “dentro” e “fora”, “física” e “metafísica”.  Desdobrar o conceito de imagem a partir de um plano de composição,  que é imanente e não transcendente. 
 Seguindo o que fala  Barthes  a “imagem é um modo de comunicação”, é um meio que  liga, um veículo, um signo. Ela comunica  através dela é que  se conhece o mundo material. É por meio deste corte, deste enquadramento,  “desta apreensão da matéria  que se pode agir sobre ela”  (Zordan, 2004).
 Mas se a imagem comunica,  comunica como? E ainda, comunica o que? “uma imagem oferece o que  é posto nela”, conforme Bergson, é uma instância intermediária,  o caminho entre a coisa e a representação. Zordan (2004) disserta  sobre o conceito de imagem como matérias virtuais que foram atuais  ou se atualizaram junto a percepção (p.02). Tal processo se dá de  modo inseparável entre o que chama Bergson de “imagem percepção  e imagem lembranças, sendo a primeira, dependente da vontade e do esforço  do corpo e do hábito de utilizar o objeto”, e a segunda, funciona  como “um mecanismo estável de reconhecimento, repetindo e conservando  imagens anteriormente armazenadas”. 
 Tais considerações  sobre o conceito de imagem nos reportam para sua emergência no contexto  contemporâneo, devido à disseminação incontrolada de imagens vivemos  o que chama Barthes de “civilização da imagem”. Essa supremacia  da imagem tem ganhado força com o avanço dos meios de comunicação  e tecnologias digitais, substituindo a forma de relacionar-se com o  mundo, como descreve Flusser ao tratar da importância da informação. 
 Portanto, o entendimento  do conceito de imagem passa “por” e “a” ligar outros conceitos  importantes para as discussões da relação do homem no mundo, opera  e faz movimentar, como refere Deleuze, um “bloco de sensações”  no encontro entre os corpos. 
 6. Aquilo que se abre  ao encontro, no encontro, pelo encontro. Abraço no vazio, fora de esquadro.  Tempo outro da escrita, do corpo, do traço, do plano, da cor. Tempo  outro da memória, da lembrança, do esquecimento e da dor. Tempo de  destruir e recompor, não! Tempo de compor. Vômito, gosto, não gosto,  sabor. Sabor e saberes daquilo que não se come, daquilo que não se  vê, daquilo que não se lê, do que não se sabe, mas que se tem fome.  Aceleração dos afectos, dos perceptos, volta no globo da morte, encontro  com sensações estranhas, com um bloco delas, encontro com um bloco  de sensações. Encontro com forças do fora que abandona a cor, que  troca de cor, que troca de corpo para poder existir. Onde? Não tem  onde definido, está no caminho, no que há por vir. Como um animal  a espera, só se escuta o seu uivo na noite. Lenta caminhada entre a  vida e a morte. Música que espera, que provoca como o vento antes de  uma tempestade. Trovão, raios e chuva. 
 7. 
 Ao pensarmos na fragilidade  da arte contemporânea nos deparamos com a nossa própria fragilidade  de composição, quanto sujeitos de uma sociedade. Talvez, um dos primeiros  pontos para analisarmos seja o nosso lugar na arte na contemporaneidade.  Que lugar ocupamos, ou não? De onde vemos, temos acesso ou dispomos  da arte contemporânea e a forma como esta subjetiva a nossa formação,  quanto sujeitos de uma sociedade. Qual a nossa forma de inscrição  na arte? Qual a nossa relação com a arte? 
 Parece estar presente,  apesar da massificação das obras de arte no contemporâneo, um certo  afastamento da relação com a mesma. Talvez esta seja uma questão  que acompanha nosso desdobrar sobre a fragilidade da arte na contemporaneidade.  O que se apresenta como um paradoxo, já que a produção de arte é  massificada, mas a relação das pessoas com esta produção é inversamente  proporcional, estando apenas algumas pessoas “aptas” a entender  e se relacionar com a arte. E as questões ainda persistem. Qual a relação  que mantemos com a arte, seja como observadores, participantes ou artistas?   O que é necessário para viver a arte? A qual modo de vida devemos  estar inscritos?
 Em uma visão do senso  comum, em que o pensamento platônico está amplamente difundido,  a arte é coisa para poucos, seja como artistas ou participantes.  Esta visão disseminada no contexto da formação dos sujeitos passa  a dicotomizar a partir de um juízo de valor do que é “belo” ou  “feio”, “bom” ou “ruim”, do que tem ou não valor como arte.  Este afastamento calcado na idéia de simulacro e pensamento elege os  capazes e os incapazes de fazer ou julgar a arte, elitizando a arte  e transformando-a como algo de “outro mundo”, distanciando ainda  mais do cotidiano das pessoas. Assim, arte não pode ser vida como nos  apresenta Nietzsche, arte é “algo que não consigo alcançar”,  que alguns conseguem entender e que poucos sabem fazer. 
 Portanto, outra fragilidade  acoplada a esta é a de um distanciamento do entendimento da arte  como vida. Ou seja, qual a função da arte? Sem querer responder tal  questão, podemos problematizar a partir das discussões dos textos  e aulas do seminário frágil, que a arte na perspectiva da filosofia  da diferença é intempestiva, tal perspectiva inaugura-se pela rejeição  da tirania do juízo, seja ele qual for, substituindo o uso da opinião,  marcado pela sua impossibilidade e prevalecendo a noção de multiplicidade.  Em outros termos o uso do “e”, marcando a multiplicidade, ao invés  do uso do “ou”, característica básica da opinião e do juízo.  A presença da multiplicidade acelera e coloca na arena das relações  com a arte o combate, primeiro o combate ao juízo, um combate as percepções  fechadas, a forma, a opinião, as forças que tentam domesticar o desejo. 
  Mesmo que esteja atrelada  a relação tempo-espaço o que se atualiza na obra de arte, o  que ela conserva é um bloco de sensações segundo Deleuze, o estudo  então, que sempre é um corte da linha do plano de composição, pode  estar relacionado com esta possibilidade da arte como experiência,  em que o sujeito vive  a arte como experiência. Encontrando-se  não com uma forma dada, de valor constituído e de conceitos prontos,  mas com a inquietação provocada pelo desconhecido. A arte passa na  perspectiva da diferença a ser vida, a partir de um plano de composição  que é imanente e não transcendente ela é a experiência como vida.  E como toda experiência nos remete algo que já conhecemos, tanto no  tempo como no espaço, mas também a algo novo, que nossa cognição  desconhece, produzindo um estranhamento.